sexta-feira, 4 de setembro de 2009

Campanha eleitoral 2009

Estamos a dias de mais uma eleição legislativa em Portugal e a campanha aproxima-se da sua fase mais veemente e decisiva, quando um facto político favorável pode valer milhares de votos e uma falha pública, um trambolhão irrecuperável.
Ainda assim, arrisco desde já a análise global da campanha dos dois principais candidatos, uma vez que o seu mote está traçado, bem definido desde há algumas semanas. Um viajante no tempo, vindo de eleições passadas, teria dificuldade em entender o que dizem e defendem os dois candidatos. Uma campanha cheia de ironias, do melhor que Portugal é capaz de inventar. Vejamos:

O actual Primeiro-Ministro, após 4 anos de arrogância, de promessas desfeitas, de contradições e escândalos vários, criou a sua nova persona, calma, respeitosa, tranquila, um ser angelical que tenta ganhar as eleições acenando com os muitos investimentos que promete para a nova legislatura. Investimentos públicos que mais não são do que obras, betão e mais betão, valendo-se de concessões e esquemas de pagamento que atiram para amanhã, para outros governos, a verdadeira factura de tudo isso. Mas a ironia não está nas condições de pagamento, está no lema de campanha em si mesmo. Quem diria que o candidato do PS defenderia a construção de auto-estradas, aeroportos, linhas de comboio, para ganhar uma eleição em 2009? Quem diria? Em 1995, foi precisamente contra essa politica de betão, de investimento em infra-estruturas, que uma onda rosa conquistou o governo, concentrando a sua politica de diálogo, no que era realmente importante: educação, politica social e cultura.
Do outro lado, também Manuela Ferreira Leite parece apostada num lema algo duvidoso: politica de verdade. É certo que o José Sócrates nestes últimos 4 anos lhe facilitou a acusação implícita nesta máxima, conseguindo não cumprir nenhuma das suas principais promessas eleitorais, mas a candidata do PSD não está isenta de anteriores incumprimentos de palavra. Senão ela pessoalmente, pelo menos o governo de que fez parte como Ministra de Estado e das Finanaças, também faltou algumas vezes à verdade, aumentando impostos, criando pagamentos adiantados dos mesmos, congelando aumentos, etc. Mais uma ironia capaz de perturbar alguém que leve a sério as palavras dos políticos.
Todos alegam as condições extraordinárias em que encontraram o País, para o contínuo incumprimento de promessas, pelo que apetece perguntar porque não preparam eles os seus programas já contando com todas as situações extraordinárias de que se conseguirem lembrar? É que Portugal parece viver mergulhado em condições extraordinárias há já muito tempo…
Pelo menos, parece-me certo que estas ironias de campanha valerão que nenhum deles consiga uma maioria absoluta, tendo necessariamente, aquele que chegar mais adiante nesta corrida, que se coligar com um dos “pequenos” partidos, formatados para o seu modelo de oposição, uma verdadeira incógnita enquanto partidos de governação.

Cheia de ironias, esta campanha é um vazio colossal, não há ideias, não há propostas realmente sérias, capazes de indicar um caminho, um lugar para Portugal.

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