sexta-feira, 9 de janeiro de 2009

Crise Internacional vs. Crise Nacional

Tem-se tornado um lugar comum para os economistas e demais analistas da nossa praça, dizer que Portugal é o país europeu melhor preparado para esta crise. O país há mais tempo em crise, habituado a viver com o pouco que tem, tem de saber superar outro momento difícil. Apertar o cinto não é uma expressão nova.
Mas esta crise, por ser mundial, pode levar a reformulações do sistema financeiro e até social, que nenhuma das recentes crises internas foi capaz. Basta olhar para os primeiros atingidos pela crise. Ao contrário do que até aqui acontecia, sempre que a economia tremia, eram as pessoas menos protegidas, de menores posses, de cargos inferiores, que eram mais atingidas. Congelamento de salários, despedimentos, reestruturações. Palavras comuns para todos esses, mas que conviviam com um contraditório mundo de exageros nos cargos mais elevados de empresas, públicas, semi-públicas ou privadas, onde regalias e benesses eram banalmente distribuídas a directores e todo o seu bando. Indemnizações chorudas em despedidas oportunas, prémios absurdos apenas por desempenharem a sua função, ou promíscuos jogos de cadeiras entre cargos públicos e privados, com interesses comuns, eram ordem do dia sem grande sublevação popular.

Mas terá tudo isso mudado ao cabo destes meses de crise internacional?
Certamente que não. E pelas previsões para 2009, parece que após as primeiras faíscas que caíram sobre os senhores do dinheiro, este ano será forte em levar milhares de empregos àqueles que sempre fazem mais um furo no seu cinto, para apertar, nunca para alargar. Mas parece que por um momento estancou a loucura de negócios duvidosos, de troca ilegal de favores, de especulação estonteante. Será que saberemos tirar desta crise, mundial, mais do que apenas o esmorecimento da pouca-vergonha caseira?
O cenário politico não é nada animador, mas não custa pedir, que num futuro próximo, pensem os nossos governantes nos verdadeiros problemas do seu país. Isso nunca poderá vir de fora, por muito que acabassem com os off-shores, com a especulação imobiliária, com os crimes ambientais, terão que ser os portugueses a dizer que querem ser educados, que querem ver a sua saúde bem cuidada, que exigem respeito.
A crise nacional, vem de muito longe e não se prende só com dinheiro, saberemos aproveitar a deixa para mudarmos o nosso fado?