quarta-feira, 9 de julho de 2008

Conservadores ? — Parte II

Continuando o tema do meu último texto, resolvi abordar, desta feita mais em detalhe, as razões do conservadorismo que reina em Portugal, as suas origens e porquês.
Muitos apontam a predominância da Igreja Católica sobre os governantes portugueses dos últimos séculos, a obediência cega aos ditames de Roma a que por isso fomos sujeitos, como o principal entrave a uma cultura menos conservadora. Uma espécie de força de bloqueio que impediu qualquer avanço do espírito, da cultura e da ciência de Portugal, fora do mais exigente cânone católico. O próprio Fernando Pessoa, escreveu sobre o facto algumas críticas veementes, como é exemplo o mais recente texto inédito, sobre a temática das aparições em Fátima.

De facto, mesmo não sendo um especialista na matéria, parece-me do conhecimento comum que, pelo menos desde a inquisição, a força da Igreja Católica sobre os destinos do povo português, foi grande, como aconteceu aliás, noutras partes da Europa. Esta proximidade, esta intromissão e promiscuidade com os governantes, foi obviamente do interesse de Roma, que assim estendia o seu invisível braço de poder e arrecadava, superiores receitas (terrenas). Podemos então sentirmo-nos usados? Vítimas do conservadorismo romano?

Não será tanto assim. Honestamente, Portugal tirou também partido dessa relação próxima, tornando-a quase simbiótica. Desde logo, as boas graças da Igreja de Roma, serviram como salvaguarda de incalculável valor na garantia da independência nacional, protegendo-nos do vizinho espanhol sempre à espreita, aguardando por uma fresta e uma debilidade nesta tira de terras à beira do Atlântico. Acresce a vertente moral, que apesar de conservadora e baseada num temor religioso exacerbado, ajudou a manter o país, intrinsecamente ingovernável e desordeiro (devido às origens e misturas de povos, apresentadas no último texto), coeso.
Uma fé única, ainda que regida por estrangeiros e de forma despótica em alguns períodos, foi essencial para manter a união deste povo, deste pais em formação.

Não se leia que concordo com uma ditadura de qualquer espécie, politica ou religiosa, pelo contrário, mas há apenas que reconhecer que muito do que somos hoje, o bom e o mau, devemos em parte à Igreja que quer na monarquia, quer em grande parte da república, esteve ao lado do poder de Portugal, mantendo o país unido. E isto não é de subestimar, se atentarmos nos demais exemplos europeus, recheados de querelas internas.

Esta breve análise, não pretende mostrar o conservadorismo português, chegado até aos dias de hoje, como uma inevitabilidade. Pretende apenas que se perceba parte da sua origem e que se entenda que nem tudo foi perdido nessa cedência à moral católica, romana. A força do clero, foi do interesse de uma sociedade que foi conservando certos preceitos, para se preservar ela própria, de imprevisibilidades de porte pouco mensurável.

Agora, há 34 anos com uma república que se vai desligando da Igreja Católica, com um povo que parece concentrar o seu fervor religioso apenas nos dias 13 dos meses de Maio e Outubro, não restam amarras nem desculpas para que aos poucos e poucos, as mentes e as almas dos portugueses não procurem soltar-se. Arriscar, sair da cadeira e fazer as coisas grandes que lhe estão destinadas. Não cortando com tudo o que foi esta história nossa, mas pensando apenas que outra mais corajosa poderá ser novamente escrita.