segunda-feira, 2 de junho de 2008

Conservadores?

Portugal é um país conservador. E com esta frase no prólogo, poderia terminar o texto que tento principiar. Ao afirmá-lo, pareço não levantar dúvidas sobre o facto.
E haverá dúvidas sobre o facto?

Com uma génese revoltosa, revolucionária, Portugal nasceu de espada na mão. Na mão de condes e afiliados, vindos do centro da Europa movidos pela ambição. Buscavam a glória da reconquista desta réstia de território mouro, buscavam certamente novas terras para onde estender a sua influência. As posses aumentavam o poder da nobreza e um condado na Europa mais ocidental, não era de menor valor.
Conseguiram esses nobres, esses proto-portugueses, já na geração seguinte, libertarem-se do jugo daqueles a quem tinham vindo ajudar e fazer deste canto de terras, um pedaço independente. Uma óbvia traição para eles, uma espécie de libertação, para nós. Por curiosidade, o país nasceu no território norte da península ibérica, por sinal, também o mais acidentado, orograficamente falando.
Para começo, nada conservadores.

Quando as fronteiras ficaram definitivamente fechadas a sul, no Algarve, Portugal era uma mescla única de gente das mais variadas origens e com todo o tipo de credos. Éramos descendentes de celtas, de visigodos, de suevos, de mouros do norte de África e Árabes da Arábia mais longínqua e havia por todo o lado resquícios da presença romana e de outras pontuais incursões de fenícios, judeus e outros. Um caldeirão de gente, liderada por uma elite do centro da Europa, loira e de pele clara.
Viria mais tarde a expansão marítima, enormes riscos corridos em mares desconhecidos, lugares onde barcos nunca tinham chegado e novos mapas a serem traçados. Tudo menos conservadores.
Da não existência, em poucos séculos passámos a um país soberano e com um Império sob o seu comando. Uma epopeia constante.
Daí em diante esse espírito bravo e conquistador, corajoso e de permanente insatisfação perante os seus feitos, foi esmorecendo e caímos numa letargia atroz. Neste estado de alma que facilmente um estrangeiro aqui chegado nos detecta. Isso que se resume a um muito querer, sentado e olhando longe, mas sem tirar o peso do corpo do lugar cómodo, ali permanecendo, agoirando sobre os ditames que nos impedem de sair, maldizendo e intrujando sobre desculpas falhas.

Porquê? Porque queremos nós conservar este pedaço de calma à beira mar plantado, sem sobressalto, sem arriscar algo mais, algo maior? Nem andamos para a frente, nem caímos definitivamente para trás, ficamos apenas aqui, conservando os ritos, os mitos, os lugares, as famílias, tudo isso que merecendo ser conservado, não deveria ser o motivo da nossa vida.