quinta-feira, 3 de abril de 2008

Educação de Portugal

O messianismo é transversal a todos os povos com fé, a todas as religiões. É um lugar comum, esperar que uma divindade descida de algures venha resgatar os ímpios das suas perdições, os doentes das suas maleitas, os desamparados da sua solidão, os vencidos das suas derrotas. É um lugar confortável.

Na minha opinião, Portugal é um verdadeiro caso de estudo neste campo, porque há séculos que se encontra à espera. Apesar de poder parecer para aqueles que nos olham de fora, que continuamos a viver, a verdade é que parte do nosso presente está sempre nessa atitude prostrada, nesse olhar estacionariamente absorto no amanhã.
É este o nosso devir mais profundo e destas profundezas temos de ser resgatados. Ansiamos mudar mas não nos deslocamos. Não gostamos do que somos mas nada fazemos para ser algo diferente.

A Educação em Portugal é um exemplo deste tipo de atitude.

Há longos anos que se vem degradando a qualidade do ensino básico. A exigência diminui, as facilidades alastram e o que importa não é aquilo que os nossos jovens sabem, nem tão pouco aquilo que lhes ensinamos, mas o grau de escolaridade que atingem. O número de anos, o título, a aparência de que são instruídos como nos países modelo, mesmo que pouco saibam.
A machadada final, prevê-se com facilidade, será a promoção do 12º ano como o limite da escolaridade obrigatória, estendendo por mais 3 anos a regra do “deixa-passar”, da ausência de chumbos por faltas, a impunidade da má educação e indisciplina, etc…

Mas porquê o messianismo como introdução deste texto sobre educação em Portugal?

Porque parece que vivemos num limbo durante décadas, onde ninguém parecia mostrar a sua oposição perante reformas sem propósito, levadas a cabo sem um fito, sem um fio condutor que guiasse a educação, onde de facto ela devia ir: ensinar e tornar culta as futuras gerações. Os professores, como os pais, os políticos, os pedagogos, quedaram-se impávidos, esperando que um dia chegasse um salvador que tudo resolvesse, num só acto sem hesitação.

Esse limbo findou com a recente manifestação de professores. Só de facto a Ministra, promovida a Anti-Cristo, pode acreditar que esta manifestação se ficou a dever exclusivamente à questão das avaliações. A verdade é que a tampa dos professores saltou, após um acumular de pressão muito superior ao que seria aconselhável. Os 100 mil de Lisboa podiam ser 1 milhão se contássemos todos os professores que nas últimas décadas foram vítimas de um sistema fragilizado, sem orientações nem objectivo digno desse nome. A Ministra foi apenas a última cara deste movimento, tendo-lhe valido a sua ousadia na prossecução de mais um corte em direcção a lado nenhum, para ter originado tamanho movimento.
Esta energia, entenda-se, é positiva! É um corte no marasmo. Um abanão nas mentes, como os vídeos do youtube, que dão uma violenta imagem dos relatos até aqui mudos e sem eco, mas igualmente reais.

É hora de falarmos sobre isto.

Quem queremos que seja a próxima geração de portugueses?

Educados, cultos, sabedores, socialmente conscientes e participativos?

Então está na hora de mudar, Portugal, porque nenhum messias virá da tirar-nos da bruma deste descalabro.