quinta-feira, 12 de março de 2009

As dunas


Tal como as dunas, os países deslocam-se, mudam de posição, saem do seu sítio. Países antigos como o nosso, já estiveram em muitos lugares, em muitas partes. Mas não me refiro apenas aos destinos onde as rotas exploratórias e migratórias levaram as suas gentes, refiro-me sobretudo às ideias desta comunidade peninsular, às crenças colectivas que em cada fase da nossa história, nos foram fazendo mais isto, ou mais aquilo.
Aventureiros, conservadores, destemidos, dogmáticos, radicais, arrogantes, desiludidos. Já fomos um pouco de tudo, experimentámos todas as sensações. As contradições, as incoerências, sucedem em nós, como em qualquer outro povo, fazem parte de um processo que se espera evolutivo, uma aprendizagem baseada na correcção de erros que se cometem, inevitavelmente.

A preocupação que me assola nesta fase, tentando olhar de fora da pilha de areia, como um pequeno grão que pelo vento é levado um pouco mais alto, a um ponto onde consegue vislumbrar o corpo colectivo da duna, é não perceber para onde quer esta duna deslocar-se. Podemos considerar que o vento é o regedor do seu destino, factor alheio a ela, e que esse vento nestes dias é uma crise internacional que sopra incerta sobre nós.
Mas, ainda assim, sinto um enorme vazio na alma desta duna, Portugal, que não sabe qual o espaço adiante que pretende ocupar, para onde pretende evoluir, completamente toldada que está pelas circunstâncias, enredada nos sucessivos mecanismos de insucesso que construiu sobre si mesma e que não a permitem ser senhora da sua passada.
Não há um objectivo colectivo, uma aspiração nobre que toque a maioria de nós, parece que tudo o que somos é um país de gente que se quer governar, um país onde cada um está por si e o bem comum é uma utopia que apenas se encaixa em discursos de propaganda politica.
Absorta em descrença, com líderes caídos em descrédito, quem dá a este país uma ideia daquilo que ele pode ser?

1 comentário:

ROSA BRAVA disse...

Muito sinceramento gostei da abordagem a propósito desta crise, que não sabemos ao certo há quanto tempo começou e quando vai acabar. Se é que não acaba connosco primeiro...Não esperemos ventos de mudança, pois de utopia e sonhos vãos está o "portuga" bem farto.
Contudo, enfiar a cabeça na areia dessas dunas também não será a solução! Paciência de chinês, e aguardar por melhores tempos (de crise!!)