quarta-feira, 27 de fevereiro de 2008

Ao povo português foi levado o seu império

Estivemos no dealbar do mundo moderno, desbravando o mar desconhecido, descobrindo para lá dos limites dos mapas, trazendo um novo mundo aos olhos de todos. Dominámos, de facto, porções de terra imensamente maiores do que este recanto ocidental da Europa donde partimos. Dominámos gentes, comércio, dominámos ciência.
Mas, à data de hoje, não resta glória, fortuna, nem tão pouco influência. Não somos relevantes na política desses territórios, a nossa língua não vingou globalmente, o nosso comércio e indústria são residuais e inexpressivos, o poder não nos serviu para lá desse momento em que fomos, em que estivemos. Extinguiu-se com o regresso das naus.

Poderíamos assentar neste retrato frio, neste soturno resultado das coisas, o nosso pessimismo latente, remetendo-nos a uma insignificância que não pode ser de maneira nenhuma a nossa.
Ao povo português foi levado o seu império, porque a sua demanda é pensar. Não comandar o mundo material, não ser um império das posses, das coisas e lugares. Se houvesse Portugal perdurado como grande nação das conquistas, guardando o imenso poder que foi seu, nunca poderia hoje o seu povo entregar-se à contemplação profunda da sua alma. Da alma do mundo. E como predito por António Vieira, o padre feito profeta, será do Espírito o Quinto Império, não da economia, não da língua, não dos costumes.
Fernando Pessoa ou Agostinho da Silva aludiram a isto mesmo. Um novo mundo onde os portugueses devem influir, mas que não será um reino das coisas. Talvez um reino das ideias, dos princípios, da razão, do espírito.

Onde estamos hoje, nós? Qual é o teu lugar Portugal?

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