sexta-feira, 29 de fevereiro de 2008

Há quanto sem rumo?

Os povos são como navios. Partem de um porto, rumo a um destino, com uma rota traçada. Nos oceanos a que se lançam, viajam sujeitos ao vento, às tempestades, às correntes, aos dias calmos. Variáveis que podem alterar os planos iniciais e a meio da viagem, o destino. De repente, com um mastro partido e velas danificadas, uma ilha pedregosa e pouco fértil pode parecer melhor casa do que o continente rico e ameno onde se pretendia chegar.
A nação Portugal nasceu com um fito. Um desígnio cristão de salvar a península ibérica e o continente europeu da presença infiel (leia-se Árabe), o que escondia a vontade firme de tornar toda a costa ocidental do território, independente do jugo castelhano. Tão eficazes que fomos a atingir esse primeiro porto de passagem, tivemos que sacrificar um ponto intermédio, deixando para trás o território da Galiza.

Fortificámos o território, resistimos às pressões de Castela, que esperava retomar a posse desta tira litoral, tornámo-nos uma nação respeitada. Dos dias mais calmos, surgiram as ideias. Os planos de quem habituado ao turbilhão, não sabia esperar ser levado pela corrente. Inovação, risco e ousadia. Tudo conjugado partimos em direcção a um porto muito mais distante. E chegámos lá. Os sacrifícios pareceram poucos quando vislumbrámos onde chegávamos. Um mundo totalmente novo, desbravado por essa coragem de quem tinha sangue vivo. Embriagados pelo feito, pelo poder, cometemos os excessos e as loucuras de quem se perde.

Tínhamos um Império e as nossas gentes partiam para fazê-lo durar. Abusavam, escravizavam, mas também cristianizavam e se misturavam e criavam laços com povos distantes. Foi uma longa travessia e com o passar do tempo, a mistura era maior do que a possessão. Aos poucos fomos perdendo a força, o rumo parecia incerto, até que em determinado ponto, pareceu que estávamos a andar para trás, de regresso à última paragem. E assim era.

Pode-se dizer que desde então mergulhámos numa tristeza tão profunda, num desânimo tão intenso, que deste navio, Portugal, os homens e mulheres debruçam-se apenas sobre bombordo buscando uma nova paragem de sonhos, idílizada, um território imaginário que devolva toda a esperança, toda a glória. Ninguém lava o navio, ninguém remenda e iça as suas velas, ninguém pega no leme e traça um novo rumo.

Há quanto tempo Portugal? E até quando?

Sem comentários: