O país encontra-se em suspenso com o conflito Belém- São Bento a marcar a agenda. Uma guerra marcada por desconfianças e episódios infelizes de ambos os lados, que se consumou à vista de todos com a declaração ao país do Presidente da República.
Por esse país político afora, os “comentadores” e “fazedores de opinião” (anti-Cavaquistas de longa data em grande maioria…), soltaram de imediato a sua fúria contra o PR e a incoerência do seu discurso.
É verdade que o seu discurso foi mal arranjado, que as suas acusações ficaram a meio caminho daquilo que ele queria e devia ter dito, mas as falhas Cavaco não são o que de pior corre em todo este caso. E é isso que os portugueses não podem deixar que aconteça impunemente diante dos seus olhos.
A manipulação da informação que fez manchetes na imprensa foi evidente e teve como único beneficiário José Sócrates, que conseguiu que fosse feita uma campanha eleitoral sem que o essencial fosse discutido. Como foi possível que na campanha das legislativas 2009, nada fosse discutido sobre os 4 anos de mandato de Sócrates e que o julgamento das suas políticas não fosse efectuado? Como foi possível que não tenha apresentado uma única proposta que definisse a sua vontade de governar por mais 4 anos o país? Mais uma vez, é apontado o fraco desempenho da sua opositora como razão deste facto, sempre culpas alheias... Mas é uma peneira com poros muito largos, porque foram sobretudo os casos como o das escutas, que sucessivamente iam enchendo o papel dos jornais e o tempo de antena de rádios e televisões, que retiraram qualquer espaço às discussões que importavam ao país (mas não a Sócrates).
Permitir que se avance com este processo de vitimização e impunidade total de José Sócrates, fazendo parecer agora que foi o Presidente da República quem quis manipular a imprensa e prejudicar Sócrates, é uma leviandade que não podemos permitir. Com tantos factos provados de interferência de Sócrates nos meios de comunicação, é agora uma suposta noticia libertada pelo PR a mais de um ano das eleições (a data do ditoso mail caído do céu a uma semana das eleições, qual golpe de asa) que faz escândalo neste país.
Que os assessores de José Sócrates liguem para as redacções a pedir explicações sobre os conteúdos editoriais, nada a dizer, sobre as noticias que as suas empresas de imagem vão semeando pela imprensa, nada a dizer, sobre os casos de jornalistas processados por Sócrates por expressarem a sua opinião, nada a dizer, sobre o caso vergonhoso de compra de um director de uma televisão (leia-se Moniz a um mês e meio das eleições, no negócio milionário Prisa-Moniz-Ongoing-MediaCapital-TVI) para silenciar noticias desfavoráveis, nada a referir!
O negócio da Ongoing então, concluído no imediato dia após as eleições é de tal forma despudorado, ostensivo, óbvio, que suplanta tudo o que se possa querer fazer parecer neste país levado por uma agenda jornalística contaminada, por quem nos bastidores, com os seus milhões e os seus poderes, dita as direcções, os sentidos e a intensidade das coisas.
A Socratização desta República, está à vista, mesmo que a queiram esconder nas falhas dos discursos presidenciais, ou nas falhas de imagem dos seus opositores.
Avé Sócrates!
quinta-feira, 1 de outubro de 2009
sexta-feira, 4 de setembro de 2009
Campanha eleitoral 2009
Estamos a dias de mais uma eleição legislativa em Portugal e a campanha aproxima-se da sua fase mais veemente e decisiva, quando um facto político favorável pode valer milhares de votos e uma falha pública, um trambolhão irrecuperável.
Ainda assim, arrisco desde já a análise global da campanha dos dois principais candidatos, uma vez que o seu mote está traçado, bem definido desde há algumas semanas. Um viajante no tempo, vindo de eleições passadas, teria dificuldade em entender o que dizem e defendem os dois candidatos. Uma campanha cheia de ironias, do melhor que Portugal é capaz de inventar. Vejamos:
O actual Primeiro-Ministro, após 4 anos de arrogância, de promessas desfeitas, de contradições e escândalos vários, criou a sua nova persona, calma, respeitosa, tranquila, um ser angelical que tenta ganhar as eleições acenando com os muitos investimentos que promete para a nova legislatura. Investimentos públicos que mais não são do que obras, betão e mais betão, valendo-se de concessões e esquemas de pagamento que atiram para amanhã, para outros governos, a verdadeira factura de tudo isso. Mas a ironia não está nas condições de pagamento, está no lema de campanha em si mesmo. Quem diria que o candidato do PS defenderia a construção de auto-estradas, aeroportos, linhas de comboio, para ganhar uma eleição em 2009? Quem diria? Em 1995, foi precisamente contra essa politica de betão, de investimento em infra-estruturas, que uma onda rosa conquistou o governo, concentrando a sua politica de diálogo, no que era realmente importante: educação, politica social e cultura.
Do outro lado, também Manuela Ferreira Leite parece apostada num lema algo duvidoso: politica de verdade. É certo que o José Sócrates nestes últimos 4 anos lhe facilitou a acusação implícita nesta máxima, conseguindo não cumprir nenhuma das suas principais promessas eleitorais, mas a candidata do PSD não está isenta de anteriores incumprimentos de palavra. Senão ela pessoalmente, pelo menos o governo de que fez parte como Ministra de Estado e das Finanaças, também faltou algumas vezes à verdade, aumentando impostos, criando pagamentos adiantados dos mesmos, congelando aumentos, etc. Mais uma ironia capaz de perturbar alguém que leve a sério as palavras dos políticos.
Todos alegam as condições extraordinárias em que encontraram o País, para o contínuo incumprimento de promessas, pelo que apetece perguntar porque não preparam eles os seus programas já contando com todas as situações extraordinárias de que se conseguirem lembrar? É que Portugal parece viver mergulhado em condições extraordinárias há já muito tempo…
Pelo menos, parece-me certo que estas ironias de campanha valerão que nenhum deles consiga uma maioria absoluta, tendo necessariamente, aquele que chegar mais adiante nesta corrida, que se coligar com um dos “pequenos” partidos, formatados para o seu modelo de oposição, uma verdadeira incógnita enquanto partidos de governação.
Cheia de ironias, esta campanha é um vazio colossal, não há ideias, não há propostas realmente sérias, capazes de indicar um caminho, um lugar para Portugal.
Ainda assim, arrisco desde já a análise global da campanha dos dois principais candidatos, uma vez que o seu mote está traçado, bem definido desde há algumas semanas. Um viajante no tempo, vindo de eleições passadas, teria dificuldade em entender o que dizem e defendem os dois candidatos. Uma campanha cheia de ironias, do melhor que Portugal é capaz de inventar. Vejamos:
O actual Primeiro-Ministro, após 4 anos de arrogância, de promessas desfeitas, de contradições e escândalos vários, criou a sua nova persona, calma, respeitosa, tranquila, um ser angelical que tenta ganhar as eleições acenando com os muitos investimentos que promete para a nova legislatura. Investimentos públicos que mais não são do que obras, betão e mais betão, valendo-se de concessões e esquemas de pagamento que atiram para amanhã, para outros governos, a verdadeira factura de tudo isso. Mas a ironia não está nas condições de pagamento, está no lema de campanha em si mesmo. Quem diria que o candidato do PS defenderia a construção de auto-estradas, aeroportos, linhas de comboio, para ganhar uma eleição em 2009? Quem diria? Em 1995, foi precisamente contra essa politica de betão, de investimento em infra-estruturas, que uma onda rosa conquistou o governo, concentrando a sua politica de diálogo, no que era realmente importante: educação, politica social e cultura.
Do outro lado, também Manuela Ferreira Leite parece apostada num lema algo duvidoso: politica de verdade. É certo que o José Sócrates nestes últimos 4 anos lhe facilitou a acusação implícita nesta máxima, conseguindo não cumprir nenhuma das suas principais promessas eleitorais, mas a candidata do PSD não está isenta de anteriores incumprimentos de palavra. Senão ela pessoalmente, pelo menos o governo de que fez parte como Ministra de Estado e das Finanaças, também faltou algumas vezes à verdade, aumentando impostos, criando pagamentos adiantados dos mesmos, congelando aumentos, etc. Mais uma ironia capaz de perturbar alguém que leve a sério as palavras dos políticos.
Todos alegam as condições extraordinárias em que encontraram o País, para o contínuo incumprimento de promessas, pelo que apetece perguntar porque não preparam eles os seus programas já contando com todas as situações extraordinárias de que se conseguirem lembrar? É que Portugal parece viver mergulhado em condições extraordinárias há já muito tempo…
Pelo menos, parece-me certo que estas ironias de campanha valerão que nenhum deles consiga uma maioria absoluta, tendo necessariamente, aquele que chegar mais adiante nesta corrida, que se coligar com um dos “pequenos” partidos, formatados para o seu modelo de oposição, uma verdadeira incógnita enquanto partidos de governação.
Cheia de ironias, esta campanha é um vazio colossal, não há ideias, não há propostas realmente sérias, capazes de indicar um caminho, um lugar para Portugal.
quinta-feira, 12 de março de 2009
As dunas
Tal como as dunas, os países deslocam-se, mudam de posição, saem do seu sítio. Países antigos como o nosso, já estiveram em muitos lugares, em muitas partes. Mas não me refiro apenas aos destinos onde as rotas exploratórias e migratórias levaram as suas gentes, refiro-me sobretudo às ideias desta comunidade peninsular, às crenças colectivas que em cada fase da nossa história, nos foram fazendo mais isto, ou mais aquilo.
Aventureiros, conservadores, destemidos, dogmáticos, radicais, arrogantes, desiludidos. Já fomos um pouco de tudo, experimentámos todas as sensações. As contradições, as incoerências, sucedem em nós, como em qualquer outro povo, fazem parte de um processo que se espera evolutivo, uma aprendizagem baseada na correcção de erros que se cometem, inevitavelmente.
A preocupação que me assola nesta fase, tentando olhar de fora da pilha de areia, como um pequeno grão que pelo vento é levado um pouco mais alto, a um ponto onde consegue vislumbrar o corpo colectivo da duna, é não perceber para onde quer esta duna deslocar-se. Podemos considerar que o vento é o regedor do seu destino, factor alheio a ela, e que esse vento nestes dias é uma crise internacional que sopra incerta sobre nós.
Mas, ainda assim, sinto um enorme vazio na alma desta duna, Portugal, que não sabe qual o espaço adiante que pretende ocupar, para onde pretende evoluir, completamente toldada que está pelas circunstâncias, enredada nos sucessivos mecanismos de insucesso que construiu sobre si mesma e que não a permitem ser senhora da sua passada.
Não há um objectivo colectivo, uma aspiração nobre que toque a maioria de nós, parece que tudo o que somos é um país de gente que se quer governar, um país onde cada um está por si e o bem comum é uma utopia que apenas se encaixa em discursos de propaganda politica.
Absorta em descrença, com líderes caídos em descrédito, quem dá a este país uma ideia daquilo que ele pode ser?
Aventureiros, conservadores, destemidos, dogmáticos, radicais, arrogantes, desiludidos. Já fomos um pouco de tudo, experimentámos todas as sensações. As contradições, as incoerências, sucedem em nós, como em qualquer outro povo, fazem parte de um processo que se espera evolutivo, uma aprendizagem baseada na correcção de erros que se cometem, inevitavelmente.
A preocupação que me assola nesta fase, tentando olhar de fora da pilha de areia, como um pequeno grão que pelo vento é levado um pouco mais alto, a um ponto onde consegue vislumbrar o corpo colectivo da duna, é não perceber para onde quer esta duna deslocar-se. Podemos considerar que o vento é o regedor do seu destino, factor alheio a ela, e que esse vento nestes dias é uma crise internacional que sopra incerta sobre nós.
Mas, ainda assim, sinto um enorme vazio na alma desta duna, Portugal, que não sabe qual o espaço adiante que pretende ocupar, para onde pretende evoluir, completamente toldada que está pelas circunstâncias, enredada nos sucessivos mecanismos de insucesso que construiu sobre si mesma e que não a permitem ser senhora da sua passada.
Não há um objectivo colectivo, uma aspiração nobre que toque a maioria de nós, parece que tudo o que somos é um país de gente que se quer governar, um país onde cada um está por si e o bem comum é uma utopia que apenas se encaixa em discursos de propaganda politica.
Absorta em descrença, com líderes caídos em descrédito, quem dá a este país uma ideia daquilo que ele pode ser?
sexta-feira, 13 de fevereiro de 2009
Portugal e Brasil
O Brasil nasceu de Portugal e inevitavelmente, seguiu o seu caminho enquanto país soberano. É hoje o maior país de língua portuguesa, mas são já poucas as parecenças entre o país de origem dos primeiros colonos e, a maior nação sul-americana. Partilhamos na história recente, a troca de emigrantes em busca de um futuro melhor. Primeiro, os nossos em direcção ao Brasil, tentando escapar da pobreza que foi cruel durante muitas das décadas do século XX. Depois, os brasileiros ao nosso encontro, procurando no Portugal do século XXI, integrado na UE, no Euro, as oportunidades que o seu país no presente não favorece.
Mas partilhamos hoje e há já muito tempo, uma particularidade simbólica de enorme significado. No verdadeiro estandarte de cada país, desenhada na sua insígnia esvoaçante, a bandeira nacional, Portugal e o Brasil partilham um facto único e revelador. São os dois únicos países do mundo (que eu saiba, pelo menos…) que têm na sua bandeira, a representação do mundo. Não um símbolo nacional, um objecto da sua terra, mas o desenho de uma representação do globo terrestre.
A origem comum a estes símbolos em ambas as bandeiras, remonta a 1816, quando o rei D. João VI decretou o Brasil como reino, dentro do Estado português que era o Reino Unido de Portugal, Brasil e Algarves. Esta bandeira incluía a esfera armilar. A bandeira do Reino Unido do Brasil, era em fundo azul, apenas com a esfera armilar, amarela, ao centro. Foi desta bandeira que saiu a actual.
Apesar da esfera armilar, enquanto objecto de navegação marítima, representar a deslocação das estrelas e planetas no nosso céu, a sua adopção aquando da instauração da república portuguesa, tal como aquando da criação da bandeira brasileira, teve por objectivo a representação do mundo, não de um objecto celeste. No caso português, obviamente, o mundo da saga e conquista marítima.
Há várias bandeiras com círculos ao centro, sobretudo em países orientais como o Japão ou o Bangladesh, que representam o sol. Há bandeiras com estrelas, com a lua, com animais ou objectos de trabalho, com símbolos políticos. Mas só Portugal e o Brasil quiseram representar o mundo. O mundo, com o céu estrelado da independência e o mote da ordem e do progresso, no caso do Brasil, o mundo, com o escudo ancestral português diante dele, no caso de Portugal.
O significado das coisas não é acidental, e como diz o poeta “as nações, todas são mistério”. Os mistérios destas duas nações, universais, estão em grande medida, ainda por decifrar.
Mas partilhamos hoje e há já muito tempo, uma particularidade simbólica de enorme significado. No verdadeiro estandarte de cada país, desenhada na sua insígnia esvoaçante, a bandeira nacional, Portugal e o Brasil partilham um facto único e revelador. São os dois únicos países do mundo (que eu saiba, pelo menos…) que têm na sua bandeira, a representação do mundo. Não um símbolo nacional, um objecto da sua terra, mas o desenho de uma representação do globo terrestre.
A origem comum a estes símbolos em ambas as bandeiras, remonta a 1816, quando o rei D. João VI decretou o Brasil como reino, dentro do Estado português que era o Reino Unido de Portugal, Brasil e Algarves. Esta bandeira incluía a esfera armilar. A bandeira do Reino Unido do Brasil, era em fundo azul, apenas com a esfera armilar, amarela, ao centro. Foi desta bandeira que saiu a actual.
Apesar da esfera armilar, enquanto objecto de navegação marítima, representar a deslocação das estrelas e planetas no nosso céu, a sua adopção aquando da instauração da república portuguesa, tal como aquando da criação da bandeira brasileira, teve por objectivo a representação do mundo, não de um objecto celeste. No caso português, obviamente, o mundo da saga e conquista marítima.
Há várias bandeiras com círculos ao centro, sobretudo em países orientais como o Japão ou o Bangladesh, que representam o sol. Há bandeiras com estrelas, com a lua, com animais ou objectos de trabalho, com símbolos políticos. Mas só Portugal e o Brasil quiseram representar o mundo. O mundo, com o céu estrelado da independência e o mote da ordem e do progresso, no caso do Brasil, o mundo, com o escudo ancestral português diante dele, no caso de Portugal.
O significado das coisas não é acidental, e como diz o poeta “as nações, todas são mistério”. Os mistérios destas duas nações, universais, estão em grande medida, ainda por decifrar.
sexta-feira, 9 de janeiro de 2009
Crise Internacional vs. Crise Nacional
Tem-se tornado um lugar comum para os economistas e demais analistas da nossa praça, dizer que Portugal é o país europeu melhor preparado para esta crise. O país há mais tempo em crise, habituado a viver com o pouco que tem, tem de saber superar outro momento difícil. Apertar o cinto não é uma expressão nova.
Mas esta crise, por ser mundial, pode levar a reformulações do sistema financeiro e até social, que nenhuma das recentes crises internas foi capaz. Basta olhar para os primeiros atingidos pela crise. Ao contrário do que até aqui acontecia, sempre que a economia tremia, eram as pessoas menos protegidas, de menores posses, de cargos inferiores, que eram mais atingidas. Congelamento de salários, despedimentos, reestruturações. Palavras comuns para todos esses, mas que conviviam com um contraditório mundo de exageros nos cargos mais elevados de empresas, públicas, semi-públicas ou privadas, onde regalias e benesses eram banalmente distribuídas a directores e todo o seu bando. Indemnizações chorudas em despedidas oportunas, prémios absurdos apenas por desempenharem a sua função, ou promíscuos jogos de cadeiras entre cargos públicos e privados, com interesses comuns, eram ordem do dia sem grande sublevação popular.
Mas terá tudo isso mudado ao cabo destes meses de crise internacional?
Certamente que não. E pelas previsões para 2009, parece que após as primeiras faíscas que caíram sobre os senhores do dinheiro, este ano será forte em levar milhares de empregos àqueles que sempre fazem mais um furo no seu cinto, para apertar, nunca para alargar. Mas parece que por um momento estancou a loucura de negócios duvidosos, de troca ilegal de favores, de especulação estonteante. Será que saberemos tirar desta crise, mundial, mais do que apenas o esmorecimento da pouca-vergonha caseira?
O cenário politico não é nada animador, mas não custa pedir, que num futuro próximo, pensem os nossos governantes nos verdadeiros problemas do seu país. Isso nunca poderá vir de fora, por muito que acabassem com os off-shores, com a especulação imobiliária, com os crimes ambientais, terão que ser os portugueses a dizer que querem ser educados, que querem ver a sua saúde bem cuidada, que exigem respeito.
A crise nacional, vem de muito longe e não se prende só com dinheiro, saberemos aproveitar a deixa para mudarmos o nosso fado?
Mas esta crise, por ser mundial, pode levar a reformulações do sistema financeiro e até social, que nenhuma das recentes crises internas foi capaz. Basta olhar para os primeiros atingidos pela crise. Ao contrário do que até aqui acontecia, sempre que a economia tremia, eram as pessoas menos protegidas, de menores posses, de cargos inferiores, que eram mais atingidas. Congelamento de salários, despedimentos, reestruturações. Palavras comuns para todos esses, mas que conviviam com um contraditório mundo de exageros nos cargos mais elevados de empresas, públicas, semi-públicas ou privadas, onde regalias e benesses eram banalmente distribuídas a directores e todo o seu bando. Indemnizações chorudas em despedidas oportunas, prémios absurdos apenas por desempenharem a sua função, ou promíscuos jogos de cadeiras entre cargos públicos e privados, com interesses comuns, eram ordem do dia sem grande sublevação popular.
Mas terá tudo isso mudado ao cabo destes meses de crise internacional?
Certamente que não. E pelas previsões para 2009, parece que após as primeiras faíscas que caíram sobre os senhores do dinheiro, este ano será forte em levar milhares de empregos àqueles que sempre fazem mais um furo no seu cinto, para apertar, nunca para alargar. Mas parece que por um momento estancou a loucura de negócios duvidosos, de troca ilegal de favores, de especulação estonteante. Será que saberemos tirar desta crise, mundial, mais do que apenas o esmorecimento da pouca-vergonha caseira?
O cenário politico não é nada animador, mas não custa pedir, que num futuro próximo, pensem os nossos governantes nos verdadeiros problemas do seu país. Isso nunca poderá vir de fora, por muito que acabassem com os off-shores, com a especulação imobiliária, com os crimes ambientais, terão que ser os portugueses a dizer que querem ser educados, que querem ver a sua saúde bem cuidada, que exigem respeito.
A crise nacional, vem de muito longe e não se prende só com dinheiro, saberemos aproveitar a deixa para mudarmos o nosso fado?
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